A fé que me move
É a mesma que me leva ao fundo do poço
Poço do preconceito
Poço dos pudores.
Mas afinal,
Não teve deus pudor
Ao criar uma criatura
Tão cheia furor e fúria.
Negará sua criação?
A criatura que nos deu o sopro e o sol
A lua e o mar
E a noite para amar
E razão para embriagar.
Negará o criador a criatura
Que morre por desejo
Que arde por paixões
Que chora no escuro?
Negará o criador
Ainda no ventre
O fruto de um falso pecado
Nascerá seu filho já abortado?
A fé que me move
Me venda os olhos para o óbvio
Quererá deus filhos tão cegos
Incapazes de pensar e agir
Máquinas prontas para dizer sim
Sem pensar antes no que diz.
Quererá deus criaturas
Tão vazias em sua plenitude?
Se criasse ele os computadores ao invés dos homens
Obteria muito mais êxito em sua tarefa
Mas se nos criou, ao invés de máquinas perfeitas
É por que assim o quis
E se não teve pudores ao fazer de nós
Loucos, desvairados e dementes
Não julgará os pecados
Que como ele, por amor pecarmos.
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